Assim como Suzane Von Richthofen, Jorge Bouchabki foi acusado de matar os pais. No entanto, diferente da manipuladora, sua culpa jamais foi provada. “Eu não tenho problema em falar sobre o assunto. Eu não matei meus pais”
Com tradições conservadoras, uma família da alta classe busca criar seus filhos para que sigam um caminho próspero e promissor. Ao mesmo tempo, eles também se preocupam com as relações pessoais das crias e fazem de tudo para elas se envolvam com “pessoas adequadas” aos padrões familiares.
Contrariados, os jovens se rebelam ao descobrirem o amor singelo e ‘proibido’ de outra pessoa e pensam que jamais serão felizes com as constantes implicâncias dos pais. Determinados a colocarem um ponto final em todo autoritarismo exacerbado, eles escolhem o pior caminho possível: matar seus progenitores.
O caso logo ganha a mídia. Inquietos, a pressão popular cobra uma rápida ação policial para que os criminosos sejam presos o quanto antes. Neste momento, uma ‘luz’ cai sobre a investigação: foi o filho que assassinou os pais.

A narrativa bem que poderia relatar o bárbaro crime cometido por Suzane von Richthofene os irmãos Cravinhos, no entanto, muitos acreditam que ela também conte o que aconteceu por trás do enigmático crime da Rua Cuba. Mas, para entendermos tudo isso, temos primeiro que recordar o que aconteceu no local em questão.
O crime da Rua Cuba
Na véspera do Natal de 1988, o casal Maria Cecília e Jorge Toufic Bouchabki foram assassinados dentro de sua casa: uma residência localizada no número 109 da Rua Cuba, no bairro Jardim América — um dos mais ricos e luxuosos de São Paulo.
Na cena do crime, policiais não encontraram sinais de arrombamento e muito menos a arma do delito. Sem suspeitos ou provas concretas, os investigadores levantaram a hipóteses de que a transgressão foi cometida pelo filho mais velho do casal, Jorge Delmanto Bouchabki.

Segundo as teorias levantadas na época, na véspera dos assassinatos, Jorge teria discutido com a mãe por causa de seu relacionamento. Ela não concordava com a união e, segundo relatos da empregada da família, os ânimos estavam tão aquecidos, que Maria teria quebrado um taco de sinuca em uma paulada que desferiu contra o filho.
Vale ressaltar que, em um primeiro momento, a versão da doméstica foi completamente diferente, falando que o lar era harmonioso e tranquilo, mas após a prescrição do crime, ela alterou seu depoimento para essa outra versão mais comprometedora. porém, por falta de evidências, Jorge, que tinha entre 18 e 19 anos na época, não foi indiciado e o crime foi encerado sem uma resposta concreta.
A relação do crime da rua Cuba com os Richthofen
Anos depois, uma narrativa parecida voltou a ganhar os noticiários locais. Em 31 de outubro de 2002, Manfred Albert von Richthofen e Marísia von Richthofen foram brutalmente assassinados enquanto dormiam na luxuosa mansão da rua Zacarias de Góes, no bairro do Brooklin, em São Paulo.

Apesar da narrativa semelhante, houve um ponto diferente no desfecho desses dois crimes: desta vez, os homicidas confessaram — o que foi altamente comemorado pelos policiais que investigavam o caso.
“Eufórico com a revelação, Tumani [responsável pelo interrogatório de Cristian Cravinhos] pegou o gravador e saiu correndo pelos corredores da DHPP gritando como se fosse uma vitória do Brasil na final da Copa do Mundo: ‘Ele confessou! Ele confessou! Ele confessou!”, relata Ullisses Campbell no livro Suzana – Assassina e Manipuladora, Editora Matrix.
“Os policiais comemoraram com uma salva de palmas e abraços mútuos a confidência que solucionava um crime de enorme repercussão. O festejo não ocorria à toa. Havia um forte receio por parte da cúpula da Polícia de São Paulo de que o caso Richthofen acabasse sem solução, como ocorreu como crime da Rua Cuba”, descreve Ullisses.
O que Jorge Delmanto Bouchabki declarou sobre o caso e como ele vive atualmente?
O silêncio do rapaz durou quase três décadas. Em 2018, Jorginho, como era chamado, concedeu uma entrevista ao repórter Walter Nunes da Folha de S. Paulo: “Minha mãe não gostava do meu namoro, mas isso não era nada demais. Chegaram a dizer que minha mãe teria me batido com um taco de sinuca nas costas durante uma discussão. Isso é um absurdo. Eu nunca briguei com minha mãe”.
Hoje, Jorge é um advogado criminal bem sucedido. Aos 47 anos, na época da entrevista, que ocorreu em fevereiro de 2018, Bouchabki trabalhava para cinco réus que tinham processos ligados à Operação Lava Jato.

Sobre o caso do assassinato dos pais ele relembra: “Eu nunca fui tratado como suspeito. Ser tratado como suspeito eu até entenderia. Mas me trataram sempre como culpado. Eu fui condenado pela imprensa”, disse. Com o passar dos anos, ele relata que já superou o trauma vivido. “Eu não tenho problema em falar sobre o assunto. Eu não matei meus pais. Estou tranquilo”.
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