Uma pesquisa conduzida pelo Centro de Estudos SoU Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) trouxe à tona um cenário onde mais da metade da população brasileira deseja que as mortes relacionadas à Covid-19 sejam julgadas e que os responsáveis sejam punidos. Os resultados revelam que 51,5% dos entrevistados apoiam a ideia de julgar e condenar aqueles envolvidos em mais de 700 mil óbitos causados pelo novo coronavírus no Brasil.
O estudo também destacou que, para a maioria esmagadora, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e o Ministério da Saúde são considerados os principais responsáveis por essas mortes, com 62,1% dos entrevistados atribuindo-lhes essa responsabilidade. Os pesquisadores sugerem que uma conduta diferente por parte das autoridades poderia ter evitado um número menor de óbitos.
A pesquisa também avaliou o grau de acompanhamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, realizada no Senado Federal em 2021, e descobriu que 76,5% dos entrevistados acompanharam as investigações. Para muitos, esse acompanhamento foi crucial para fundamentar suas opiniões sobre o assunto.
Quanto às medidas para reparar os crimes relacionados à pandemia, a pesquisa indicou três providências que receberam maior apoio: a criação de uma Comissão da Verdade para investigar os crimes (44,7%), a indenização das vítimas, especialmente crianças que perderam pais e/ou mães (39%), e a instauração de um Tribunal Especial para acelerar os julgamentos (38,3%).
É interessante notar que a aceitação dessas medidas varia de acordo com fatores como região geográfica, renda e nível de escolaridade. Por exemplo, a Comissão da Verdade foi mais bem aceita no Centro-Oeste, entre aqueles que ganham de três a cinco salários mínimos e têm ensino superior. Já as indenizações foram mais apoiadas por pessoas de outras religiões, com renda nessa mesma faixa e com ensino médio. O tribunal especial encontrou maior apoio entre pessoas de 25 a 34 anos, sem religião e de outras religiões.
Outro ponto destacado na pesquisa foi a preferência por investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) como medida para prevenir ou reduzir a mortalidade em futuras epidemias ou pandemias, com 52,4% dos entrevistados apoiando essa ideia. Além disso, 46,5% acreditam que o aumento do investimento em ciência e pesquisa é o caminho certo, enquanto 38,7% defendem o aumento da produção de vacinas com tecnologia nacional.
A pesquisa também abordou a preferência eleitoral relacionada à vacinação contra a Covid-19. Os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro receberam significativamente menos doses de vacina em comparação aos eleitores do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. A diferença é ainda mais acentuada quando se trata da vacinação infantil contra a Covid-19.
Outro dado relevante da pesquisa diz respeito à confiança nas vacinas, com uma disparidade notável entre os eleitores de Bolsonaro e Lula. Apenas 38,4% dos bolsonaristas concordam que as vacinas são amplamente testadas e eficazes, em comparação com 75% dos eleitores de Lula.
Renda, escolaridade e religião também desempenham papéis importantes na adesão às vacinas e no tratamento recebido pelos pacientes infectados. Por exemplo, a distribuição do chamado Kit Covid foi maior entre aqueles que ganham menos de um salário mínimo e entre os que têm ensino fundamental. Essa disparidade também é evidente na adesão às campanhas de vacinação, com os grupos de maior renda e escolaridade apresentando uma maior taxa de adesão.
Esses resultados refletem a complexidade das opiniões e atitudes da população brasileira em relação à pandemia de Covid-19, com diversos fatores influenciando as percepções e preferências. A pesquisa foi realizada em parceria com o Instituto Ideia e ouviu 1.295 entrevistados de todas as regiões do país, com idade igual ou superior a 18 anos, entre os dias 5 e 10 de julho de 2023.
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