Um dos maiores templos religiosos do Brasil, pertencente à Igreja Mundial do Reino de Deus e liderado pelo pastor Valdemiro Santiago, está prestes a ser leiloado com o objetivo de quitar dívidas da denominação evangélica. O espaço, que abrange 46 mil metros quadrados, está avaliado em R$ 38,5 milhões, representando o lance inicial para as ofertas que começarão em outubro.
Esse leilão lança luz sobre a grave crise financeira enfrentada pela denominação nos últimos anos. O Tribunal de Justiça de São Paulo registrou mais de 1.100 ações judiciais contra a igreja, a maioria relacionada a cobranças de dívidas. Os representantes da igreja argumentam que essas dívidas surgiram devido ao fechamento dos templos durante a pandemia e que os dízimos constituem a única fonte de receita da instituição.
A decisão de penhorar o templo foi tomada pelo Judiciário para liquidar uma dívida de R$ 881 mil de outra igreja localizada em Ubatuba, no litoral. A Igreja Mundial do Reino de Deus foi condenada em primeira e segunda instâncias, sem direito a mais recursos. Em abril de 2022, a Justiça já havia autorizado o leilão, que ocorrerá após o templo permanecer fechado por dois anos.
O imóvel em questão é descrito no site do Superbid Exchange, a empresa responsável pelo leilão, como composto por três áreas principais: um prédio administrativo de 5 pavimentos, um galpão de 17 mil metros quadrados com pé-direito de 10 metros, além de um estacionamento com capacidade para 813 automóveis e 162 motos.
Localizado em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, o templo pode acomodar até 20 mil pessoas, sendo 13,5 mil delas em assentos. Segundo pastores mais antigos da igreja, o templo, inaugurado em 2014, possui salas que serviam como apartamentos, equipadas com camas, TVs e guarda-roupas.
Esse leilão levanta questionamentos sobre o futuro do pastor Valdemiro Santiago, uma das figuras evangélicas mais influentes do Brasil, com 59 anos de idade, que prefere ser chamado de “apóstolo”. Ele foi um dos líderes da chamada “terceira onda” do neopentecostalismo, um segmento que tem crescido significativamente no país. Outros líderes desse movimento incluem o bispo R.R. Soares, Edir Macedo e Silas Malafaia.
Além do fechamento do templo, a Igreja Mundial do Reino de Deus também enfrenta desafios em seu canal de televisão em Curitiba, em uma disputa com a Universal. A igreja assinou contratos milionários para a compra de horários no canal, que atualmente transmite cultos por 22 horas diárias. Os custos, que já foram de R$ 5,5 milhões por mês, agora estão pela metade.
Funcionários da TV Mundial, que realizaram greves devido a atrasos nos salários, apontam problemas de gestão, destacando o controle concentrado na família Santiago e os excessos de gastos com viagens, voos particulares e eventos.
No processo de penhora do templo, os advogados argumentam que a Mundial é uma organização religiosa sem fins lucrativos, financiada por meio de dízimos e doações, e que o caixa da instituição é volátil, uma vez que as doações são voluntárias e esporádicas. Até o momento, a Mundial não prestou retorno para comentar o assunto.
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