Tive o prazer de estar presente no momento dessa decisão, pois eu era o Secretário de
Educação, Esporte e Lazer do Estado.
Amazonino queria atender as camadas mais pobres com cursos superiores, adquirindo
vagas em instituições de ensino superior particulares, mas isso não era possível devido
a impedimentos constitucionais. Ele disse: “Então, vamos criar a nossa própria
universidade, a exemplo de São Paulo. Vamos conversar com os empresários das
empresas incentivadas do Distrito Industrial para bancar sua instalação e
funcionamento.” Assim foi feito, e a criança nasceu.
O Amazonas enfrentava um grave problema na formação de professores para as redes
estadual e municipais, pois eram poucas as instituições de ensino superior que
formavam educadores. Como resultado, havia um número significativo de professores
lecionando no ensino médio sem formação adequada; leigos ensinando em escolas
rurais; e professores com formação em uma disciplina sendo obrigados a lecionar outras,
apenas porque haviam estudado essas matérias em seus cursos de formação.
Essa falta de oportunidades para os professores gerava graves prejuízos para os alunos.
A UEA veio para suprir essa lacuna. Em 20 anos, todos os professores das redes estadual
e municipais obtiveram sua formação específica. O Proformar (o mais exitoso programa
de formação de professores, premiado internacionalmente) cumpriu esse papel nos
municípios, enquanto as escolas presenciais desempenharam essa função em Manaus.
Hoje, além da formação específica, muitos professores já realizaram cursos de mestrado
e doutorado. Por essa razão e devido a um massivo investimento na infraestrutura das
escolas, a educação pública no Amazonas apresentou uma melhora significativa nos
últimos 30 anos.
Agora, com a instalação de muitas instituições de ensino superior no Amazonas, inclusive
na modalidade a distância, a oferta de vagas no ensino superior aumentou
consideravelmente. Em muitos cursos, sobretudo na área de Humanidades, a oferta já
ultrapassou, e muito, a demanda. Como consequência, centenas de jovens formados
não encontram mercado de trabalho.
A UEA precisa, agora, redirecionar seus recursos para:
• Cursos que atendam às demandas do Distrito Industrial: Criar programas de
formação que se conectem às necessidades das empresas locais, além de
desenvolver nos laboratórios pesquisas, programas e produtos, incluindo cursos
de especialização, quando necessário.
• Formar mão de obra para o próximo desafio da economia: Estabelecer uma
matriz que permita explorar, em harmonia com a natureza, os bilhões de dólares
existentes no solo e subsolo do estado (nióbio, cassiterita, tântalo, urânio, caulim, potássio, esmeraldas, diamantes, ouro, águas-marinhas, rubis, granitos, madeira manejada, piscicultura).
A UEA tem a responsabilidade de formar a mão de obra para esse desafio. Essa formação
deve ser tanto técnica quanto ambiental, já que a exploração dessas riquezas precisa ser
feita de maneira sustentável.
A UEA precisa assumir o protagonismo desse novo desafio, pois milhões e milhões já
foram investidos em outras entidades que, concretamente, pouco ou nada contribuíram
para o desenvolvimento do nosso estado.
Manaus, 28 de janeiro de 2025.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazonas