Uma pesquisa conduzida pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Associação Paulista de Medicina (APM) revelou dados alarmantes sobre o assédio no ambiente de trabalho para profissionais da saúde. O estudo online, que ouviu 1.443 médicas em todo o país, constatou que seis em cada dez médicas (62,6%) já foram vítimas de assédio sexual e/ou moral em suas atividades profissionais.
A pesquisa, realizada entre os dias 25 de outubro e 16 de novembro, revela que 74% das médicas ouviram falar ou testemunharam casos de assédio envolvendo suas colegas. O levantamento destaca ainda que 70% das médicas já enfrentaram situações de preconceito, sendo 31,7% durante o período de graduação em medicina, 39,8% durante a residência médica e 45,7% após a conclusão da pós-residência.
Metade das profissionais (51%) também relata ter sido vítima de agressões verbais e físicas, enquanto 72,3% testemunharam episódios semelhantes contra colegas de trabalho. Surpreendentemente, 55,4% das médicas não denunciaram o assédio às autoridades competentes.
A pesquisa destaca a preocupante ineficácia das denúncias, visto que apenas 11% das profissionais que denunciaram o assédio relatam algum resultado, como apuração da denúncia ou outras providências. Apenas 10% das médicas que sofreram violência procuraram órgãos policiais ou judiciais, com míseros 5% afirmando que os casos foram devidamente apurados e os responsáveis, punidos.
A médica Ivone Meinão, coordenadora da pesquisa pela APM, destaca que as mulheres médicas muitas vezes enfrentam desafios adicionais no dia a dia, incluindo excesso de trabalho, desrespeito, misoginia e falta de apoio. A pesquisa também aborda questões de igualdade de gênero na carreira médica, revelando que quase 80% das médicas não veem equidade nesse aspecto.
Os resultados da pesquisa serão fundamentais para orientar a implementação de ações efetivas no combate ao assédio e à violência contra as médicas. A Associação Médica Brasileira já criou um canal de denúncias para que as médicas registrem queixas, recebam orientações e respaldo jurídico.