Passados mais de dois dias desde a operação da Polícia Federal que envolveu aliados e após ser alvo de solicitação de quebra de sigilos no caso das joias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) optou por não se manifestar nas redes sociais em relação às alegações.
Esta atitude discreta, em contraste com seu comportamento anterior em situações similares, ocorre após a Polícia Federal requisitar a quebra dos sigilos bancário e fiscal tanto do presidente quanto da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no âmbito das investigações sobre as joias.
Em entrevista ao canal de orientação bolsonarista Te Atualizei, divulgada no domingo (13) mas gravada no dia 1º, Bolsonaro admitiu a possibilidade de culpa de ex-colaboradores, porém afirmou que as prisões deles têm como objetivo atingi-lo e pressioná-los a cooperar em delações.
O presidente declarou: “Dois dos meus auxiliares diretos estão detidos há 90 dias, enquanto outros dois [auxiliares], que não eram diretamente subordinados a mim, também estão presos. O [Mauro] Cid e o sargento [Luis Marcos dos] Reis, embora ativos, não deveriam estar sujeitos a essa prisão preventiva caso fossem culpados. Um dos objetivos é obter delações premiadas, enquanto o outro é me atingir”, disse Bolsonaro no vídeo transmitido no Dia dos Pais.
Durante a entrevista, ele também criticou o governo anterior de Lula (PT), enalteceu as realizações de sua própria administração na economia e mencionou transferências de recursos por meio do sistema Pix feitas por seus apoiadores. No domingo de manhã, Bolsonaro fez uma nova postagem nas redes sociais, porém evitou tratar do assunto das joias. Ele compartilhou um vídeo contendo imagens familiares e uma saudação ao Dia dos Pais, acompanhada pela mensagem: “Um domingo repleto de momentos inesquecíveis a todos!”.
No sábado (12), ele havia compartilhado um vídeo abraçando uma criança e desejando a todos um “bom sábado”, ignorando as diligências realizadas contra seus aliados na sexta-feira (11).
As declarações de Bolsonaro acerca das suspeitas levantadas pela Polícia Federal foram feitas somente por meio de sua equipe de defesa, que emitiu um comunicado informando estar disposta a disponibilizar os registros bancários do ex-presidente. Além disso, a nota ressaltou que Bolsonaro “nunca se apropriou ou desviou bens públicos de qualquer natureza”.
Na mesma declaração, a defesa destacou que Bolsonaro voluntariamente solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU) em março deste ano a entrega das joias recebidas, aguardando uma decisão final sobre seu destino, o que efetivamente ocorreu.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) compartilhou a nota de defesa de seu pai e, no sábado, usou as redes sociais para criticar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), relançado por Lula no mesmo dia em que a operação policial, batizada de Lucas 12:2, foi desencadeada.
Neste domingo, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, fez uma publicação relacionada às joias, compartilhando um post de uma apoiadora. De acordo com o texto da apoiadora, uma portaria do governo de 2018 sugere que as joias recebidas da Arábia Saudita seriam consideradas bens pessoais do presidente. Com base nesse argumento, Carlos escreveu: “Interessante! Há os inocentes e há os outros!”.
A operação da Polícia Federal marca o início da fase final das investigações, que poderiam resultar em acusações contra Bolsonaro como líder de uma suposta organização criminosa. Entre os alvos das diligências estão o general Mauro Lourena Cid e seu filho, o auxiliar de ordens Mauro Cid, bem como Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, e Osmar Crivelatti, tenente do Exército que também trabalhou como auxiliar de ordens na Presidência.
A investigação indica que o grupo liderado pelo então presidente encaminhou ao exterior, por meio de viagens aos Estados Unidos em julho e 30 de dezembro do ano passado, pelo avião presidencial, pelo menos quatro conjuntos de presentes. Posteriormente, esses bens teriam sido enviados para lojas especializadas em joias e objetos de alto valor, localizadas nos EUA, de acordo com o documento assinado por Moraes.
A investigação também sugere que o dinheiro proveniente dessas vendas foi convertido em espécie e integrado ao patrimônio pessoal dos investigados, sem recorrer ao sistema bancário convencional, com o intuito de ocultar a origem, localização e posse desses recursos.
O advogado Bernardo Fenelon renunciou à defesa de Mauro Cid, citando a falta de acesso aos documentos como motivo. Em nota divulgada no domingo (13), o advogado Frederick Wassef afirmou estar sendo alvo de “calúnias” e negou participação no suposto esquema de venda de joias investigado pela Polícia Federal.
Wassef declarou: “Como advogado de Jair Messias Bolsonaro, gostaria de informar que, uma vez mais, estou sendo alvo de uma campanha de notícias falsas e mentiras de várias naturezas, acompanhadas de informações contraditórias e fora de contexto”. Ele prosseguiu, afirmando: “Nunca vendi, ofereci ou possuí joias. Jamais participei de tratativas ou auxiliei em vendas, direta ou indiretamente. Nunca participei ou contribuí, de qualquer maneira, para negociações ou vendas”.