Após incorporar PSC, Podemos deve integrar federação entre PSDB e Cidadania. A aproximação pode resultar em fusão das siglas para criação de um novo partido
A federação entre o PSDB e o Cidadania pode ganhar um novo integrante muito em breve: o Podemos, que acaba de incorporar o quadro do PSC, após esse último partido não atingir a cláusula de barreira nas últimas eleições. E a aproximação pode até mesmo resultar na fusão dessas siglas, o que criaria um novo partido de centro-direita no Brasil.
“Há conversas avançadas com o Podemos e o Cidadania. Acho que essa é uma tendência não só no PSDB. O PT já fez federação com outros partidos. O PSDB já fez com o Cidadania. Isso é muito bom. Tomara que, a partir daí, surjam fusões. As federações são um estágio inicial para uma relação mais estreita. Vamos torcer para que daí surjam fusões para, verdadeiramente, reduzir o número de partidos, que é o que o País mais precisa sob o ponto de vista de uma reforma política”, afirma o vice-presidente nacional do PSDB e deputado federal por Minas Gerais, Paulo Abi Ackel.
O movimento acontece após o candidato ao governo de Minas nas últimas eleições pelo PSDB, Marcus Pestana, se reunir com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). Na ocasião, o ex-deputado deixou a reunião com uma ideia já defendida por ele em oportunidades anteriores: uma eventual fusão entre o PSDB, PDT e PSB. Contudo, a coalizão parece pertencer só ao campo utópico até o momento.”Há uma certa convergência que todos esses partidos (PSDB, Cidadania e Podemos) façam parte de um centro democrático. Se, eventualmente, tivesse condições de o PDT vir, seria ótimo”, diz Abi Ackel.
O deputado estadual por Minas Gerais, João Leite (PSDB), é mais um a defender a federação e posterior fusão da sigla com outros partidos. Apesar de garantir que não integra as discussões, o parlamentar é mais um a falar da entrada do Podemos na federação que já conta com o Cidadania. “Tem uma mudança forte no partido. Porque o Rio Grande do Sul e Minas Gerais estão mais na liderança do partido. Acho difícil algo com São Paulo neste momento, por conta da mudança que aconteceu no partido. Porque esses anos todos São Paulo vem dominando, mas agora será diferente com um presidente do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite) e um vice-presidente de Minas Gerais (Abi-Ackel). Mas, o partido tem que tomar muito cuidado com isso. O País está rachado no meio. Agora, eu vejo com bons olhos que a gente diminua o número de partidos. A ALMG tem 28. Isso dificulta muito a articulação no dia-dia”, diz.
Também deputado estadual por Minas, Raul Belém (Cidadania) afirma que não participa das discussões sobre a entrada do Podemos na federação. Segundo ele, as negociações são conduzidas pela executiva nacional. Mas, o parlamentar aprova os esforços. “Acho que o momento agora exige essas fusões para que os partidos possam ter representatividade. Possam ter um poder maior de trabalho no Congresso, nas assembleias, mas especialmente no Congresso, onde precisa de uma bancada mais forte. Não seria ruim. Para Minas, nós ficaríamos com quatro deputados da federação (João Vítor Xavier, Raul Belém e Bosco pelo Cidadania; e Leonídio Bouças pelo PSDB) e um do Podemos (Lud Falcão). Já passa a ter uma bancada, porque o mínimo são cinco parlamentares”.
PDT e PSB distantes
Apesar da defesa de Marcus Pestana em prol da entrada do PDT e do PSB na fusão partidária, lideranças dos dois partidos ouvidas pela reportagem garantem que não há qualquer discussão avançada sobre isso. No entanto, aprovariam uma aproximação já no Congresso para estreitar laços entre a centro-direita e a centro-esquerda.
“Já conversamos isso no passado com o Pestana, com o governador Aécio (Neves) e com o (Carlos) Lupi, que é nosso presidente. Eu, particularmente, acho que é uma ideia que pode acontecer, criando um novo nicho político bem diferenciado dos que estão aí. Mas, eu acho que essas coisas acontecem subindo degraus de escada. Não se pode, de uma hora para outra, fazer uma transformação absoluta. Até porque, nessa história também, estaria envolvido o Cidadania, que está na federação com o PSDB. Eu acho bastante razoável que trabalhemos desde já a conversar sobre a constituição de um bloco parlamentar em Brasília”, diz Mário Heringer, presidente do PDT em Minas Gerais. “Essa é a minha opinião, como um deputado do partido, presidente do partido em Minas e membro do diretório nacional, mas eu não decido nada sozinho”, completa.
Perguntado se a entrada do Podemos, um partido mais à direita, dificultaria a aproximação com o PSDB, Heringer afirmou que ainda é cedo para repercutir o peso dessa aliança para futuras tratativas. “Eu seria precipitado se eu dissesse que há impeditivo nesse momento. Acho que a gente, quando quer começar um namoro, não bota condição. É o momento de conversar. O Podemos hoje tem um dos perfis mais de direita que a gente conhece. Então, é meio difícil que a gente tenha os mesmos caminhos políticos”, diz.
No PSB, fontes de dentro do partido disseram à reportagem que qualquer decisão passa pela executiva nacional, que tem decidido os próximos passos a partir de decisões coletivas. No entanto, a aproximação com o PSDB é vista com receio. “Eu não posso falar pelo partido. Eu respeito o que a nacional decide. A gente tem que se unir a quem tem um pouco de identidade com o nosso trabalho. O PDT tem. O PSDB ainda não, porque eles tiveram muitas divergências com eles nessa legislatura atual”, afirmou uma das pessoas consultadas.