Feiras lotadas. Aglomerações nas ruas. Trânsito intenso. As cenas vistas nos últimos dias em algumas partes de São Luís não são o que se esperaria da primeira capital do país a entrar em lockdown.
Para evitar o colapso do sistema de saúde local, onde a ocupação das unidades de tratamento intensivo da rede estadual atingiu 100% no fim de abril, a Justiça determinou que a cidade e outros três municípios da sua região metropolitana adotassem na última terça-feira (5/5), por dez dias, medidas mais rígidas para reduzir a propagação do coronavírus.
Entre elas, a proibição de circulação de veículos particulares, a não ser para comprar alimentos ou atendimento médico, a entrada e saída de veículos da ilha e o fechamento de qualquer comércio não essencial.
No entanto, os dados de monitoramento do isolamento social em São Luís mostram que, apesar de mais gente ter ficado em casa, ainda assim isso não é suficiente para controlar a epidemia na cidade, onde foram registrados 3.745 dos 5.909 casos confirmados no Maranhão até a última quinta-feira, segundo a Secretaria estadual da Saúde.
A adesão ao isolamento foi de 55,4% no primeiro dia de lockdown e caiu desde então, para 54,1% no segundo dia e para 53% no terceiro, de acordo com a empresa In Loco, que criou um índice baseado nos dados de geolocalização de 60 milhões de celulares do país.
Vulnerabilidade social
O epidemiologista Antonio Augusto Moura da Silva diz quem um dos maiores obstáculos para a cidade ter índices de isolamento maiores é a vulnerabilidade social da população do Maranhão.
O Estado tem a maior proporção da população vivendo em situação de pobreza, segundo dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): 54,1% dos 6,8 milhões de maranhenses vivem com menos de R$ 406 por mês.
Além disso, o Maranhão tem o maior percentual do país de trabalhadores informais — são 64,9% dos trabalhadores ocupados, segundo dados de 2018.

“A gente já desconfiava que a gente não ia conseguir manter todo mundo em casa. Não porque as pessoas não querem aderir. Mas porque é difícil para elas fazer isso porque precisam sair de casa todo dia para ganhar dinheiro. Para fazer o lockdown, teria que ampliar o programa do governo de auxílio emergencial para atingir o maior número de pessoas possível. Sem uma coisa ou outra, elas vão passar fome”, diz Silva.
Esse é caso da empregada doméstica Maria Barros, de 51 anos. Ela está há quase um mês sem trabalhar e já gastou todo seu último salário anterior para quitar o aluguel e as contas e abastecer a despensa.
Seu filho também não está conseguindo trabalho como pedreiro e ele não sabe se vai conseguir ganhar algum dinheiro para passar o mês que vem.
Socorro está na mesma situação. Ela estava em regime de experiência na casa onde trabalha e não tem ainda carteira assinada. Por isso, não tem qualquer garantia de que receberá o próximo salário.
“Eu quero ficar em casa, mas, se a minha patroa não me pagar, eu vou ter que sair. Precisa entrar pelo menos R$ 100 para comprar comida.”
Curta a página do Portal dos Fatos e fique por dentro das principais notícias.

Comments 3