A CPI das Apostas encerrará seus trabalhos sem ter ouvido os líderes da máfia das apostas ou o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues. A possibilidade de interrogar Ednaldo havia levado à tentativa de prorrogar o prazo final dos trabalhos da comissão.
O relatório da CPI, elaborado pelo deputado Felipe Carreras (PSB-PB), foi protocolado na noite de terça-feira (19) e possui quase 250 páginas. De acordo com o regimento, são necessárias duas sessões para que o relatório seja finalmente votado.
No texto, Carreras propõe várias medidas para tentar combater as fraudes no futebol brasileiro. Ele destaca que o esporte, em geral, está vulnerável à manipulação de resultados devido ao crescimento do mercado de apostas esportivas.
Entre as medidas propostas está a limitação das apostas apenas em gols ou no resultado de uma partida específica. Além disso, o relatório sugere que dirigentes esportivos sejam obrigados a comunicar às autoridades qualquer suspeita de manipulação e que as punições aplicadas pela Justiça desportiva sejam uniformes, já que as penalidades para os atletas envolvidos no caso foram inconsistentes.
Com a apresentação do relatório, a CPI encerrará suas atividades sem ter ouvido Ednaldo Rodrigues ou qualquer um dos seis denunciados pelo Ministério Público de Goiás como líderes da máfia das apostas que operava para manipular resultados no futebol brasileiro.
Os membros da CPI chegaram a solicitar uma prorrogação do prazo, que inicialmente terminaria em 14 de setembro, para que fosse possível ouvir Ednaldo. O pedido foi aceito pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o depoimento estava marcado para 20 de setembro. No entanto, devido ao prazo necessário para apresentação do relatório, o depoimento de Ednaldo foi cancelado.
A audiência com Ednaldo havia sido desmarcada anteriormente, a pedido de sua defesa, alegando que ele estava em viagem com a seleção brasileira.
O Ministério Público apontou Bruno Lopez como o líder da organização criminosa que manipulava resultados. Tanto ele quanto sua companheira, Camila Silva da Motta, suspeita de integrar a cúpula do grupo, chegaram a ser convocados para prestar depoimento, mas a oitiva não foi agendada pelo presidente da comissão, o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI).
O órgão também apontou outros quatro nomes como integrantes dos núcleos de financiadores e operadores do esquema criminoso, todos denunciados à Justiça, mas que não foram convocados para depor na CPI.
Durante mais de três meses de duração, a CPI aprovou vários pedidos de oitiva, incluindo integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público, empresários do setor de apostas esportivas, jogadores envolvidos no esquema, dirigentes da CBF, representantes de árbitros e até mesmo pessoas sem ligação evidente com o grupo, como o técnico Abel Ferreira e o lateral Gabriel Menino, ambos do Palmeiras.
Conversas interceptadas pelo Ministério Público sugerem que Bruno Lopez teria envolvido seus pais e sogros no esquema e chegou a pedir à mãe “reza forte” para que o golpe fosse bem-sucedido.
A primeira fase da Operação Penalidade Máxima, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás em fevereiro deste ano, revelou que o grupo atuava em núcleos. Bruno, como líder da operação, comandava o principal deles, chamado de “apostadores”, do qual Camila também fazia parte.
O relatório da CPI destaca que, como os responsáveis pela máfia já foram denunciados à Justiça, não será recomendado o indiciamento de novas pessoas. Ele também propõe quatro projetos de lei para melhorar a regulação e a fiscalização das apostas esportivas no Brasil.
O relatório ainda passará por apreciação da comissão e pode sofrer alterações antes de ser aprovado.
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