Na tribuna da Câmara dos Deputados, em 24 de setembro de 1991, Jair Bolsonaro, então parlamentar conhecido pela retórica incendiária, surpreendeu ao adotar um tom mais moderado. Na ocasião, lamentava um informe confidencial do Comando de Operações Terrestres do Exército, recebido de um colega de farda, que o proibia de entrar em unidades militares.
Bolsonaro, que já havia enfrentado a proibição e a censura da cúpula militar quatro anos antes, destacou a dificuldade de conciliar sua presença em eventos militares e seu papel como deputado. O parlamentar, outrora proscrito, seguiu uma trajetória que o levou de rebelde a ser reabilitado pelas altas instâncias do Exército.
Essa transformação foi impulsionada, em parte, pela atuação política de Bolsonaro no Congresso Nacional. Ao direcionar emendas individuais para instituições militares, especialmente na área de saúde, ele demonstrou seu envolvimento e defesa de pautas de interesse comum. Essa estratégia contribuiu para sua reabilitação aos olhos das Forças Armadas.
Além disso, Bolsonaro vocalizou o sentimento anticomunista, defendeu o golpe de 64 e a ditadura militar, posicionando-se como um defensor das Forças Armadas. Sua cruzada contra a Comissão Nacional da Verdade, que investigava violações de direitos humanos durante a ditadura, fortaleceu ainda mais seu vínculo com os militares.
A ascensão política de Bolsonaro foi marcada pelo apoio expressivo das Forças Armadas, que o respaldaram em sua candidatura à Presidência em 2018 e 2022. Ao assumir o governo, militarizou a administração federal e politizou as Forças Armadas de maneira inédita na democracia brasileira.
Essa trajetória complexa revela como Bolsonaro passou de proibido nos quartéis a ser escolhido e apoiado pelo Exército, consolidando sua presença política e militar no cenário nacional.