Mensagens trocadas por militares vinculados à Presidência da República durante o governo de Jair Bolsonaro levantaram novas suspeitas envolvendo o recebimento de presentes pelo então chefe do Executivo. De acordo com dois e-mails em posse da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro teriam recebido pedras preciosas em Teófilo Otoni (MG) em setembro do ano passado, e o presente não foi oficialmente cadastrado.
Os e-mails analisados pela CPMI foram trocados entre os primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti, além do segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk, que foram ajudantes de ordem da Presidência sob Bolsonaro. As mensagens contêm listas numeradas com detalhes das atividades que os militares deveriam cumprir. Uma mensagem datada de 27 de outubro, assinada por Cleiton Henrique Holzschuk, relaciona os afazeres aos dois colegas e menciona o item de número 36, intitulado “Presente PR”, que trata das supostas pedras preciosas.
No e-mail, consta o seguinte: “Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele.”
A comissão parlamentar também está analisando outra mensagem que indica que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tentou vender um Rolex recebido em viagem oficial por R$ 300 mil. A interlocutora no e-mail pergunta quanto ele quer pelo relógio e Cid responde que pede US$ 60 mil, mencionando que não possui o certificado do relógio, pois este foi recebido como um presente durante uma viagem oficial.
Os e-mails obtidos pela CPMI foram encontrados na caixa de e-mails deletados de Osmar Crivelatti, atualmente um dos assessores pessoais de Bolsonaro. As mensagens não haviam sido apagadas e foram reveladas após análise de aproximadamente mil e-mails que chegaram ao colegiado. A existência das mensagens sobre as pedras preciosas e o relógio foi relatada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) durante uma sessão da comissão.
Diante das suspeitas levantadas pelas mensagens, cinco deputados e dois senadores da CPMI enviaram uma representação à Procuradoria-Geral da República solicitando a investigação sobre o caso das pedras preciosas. Eles alegam que há indícios de possíveis ilícitos que poderiam caracterizar improbidade administrativa e pedem que a Polícia Federal tome depoimentos de todos os envolvidos. Até o momento, a assessoria de Bolsonaro não se manifestou sobre o assunto.
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