A ex-gerente de compras da Secretaria de Saúde do Amazonas, Alcineide Figueiredo Pinheiro, declarou em depoimento que a compra superfaturada de 28 respiradores inadequados foi articulada diretamente pelo governador Wilson Lima (PSC). Os equipamentos foram negociados com uma loja de vinhos em meio ao caos gerado pelo coronavírus no estado.Em depoimento prestado à Polícia Federal em 30 de junho, Alcineide afirmou que “Alencar”, como é apontado o operador da negociação, foi indicado pelo governador para “ajudar” nas compras, como mediador entre a secretaria e os fornecedores durante a pandemia. Através da Secretaria de Comunicação, o governo de Amazonas nega a participação de Lima. “Alencar” foi procurado, mas não respondeu. Fontes do UOL no meio jurídico e político no Amazonas informam que o “Alencar” citado seria Guttemberg Alencar, empresário e militar da reserva da Polícia Militar, conhecido por ser uma pessoa que circula entre políticos do estado há vários governos. Segundo a ex-gerente de compras informou à PF, Alencar foi apresentado a ela pelo então secretário de Saúde, Rodrigo Tobias, e pelo secretário executivo da pasta, João Paulo, na própria secretaria. Ambos não responderam a tentativas de contato do UOL. O depoimento acrescenta que Alencar “compraria” os respiradores para o estado pagá-lo posteriormente.“Que como a Susam (Secretaria de Saúde do Amazonas) não tinha meios de comprar à vista, Alencar compraria os respiradores ou ventiladores para o estado; que posteriormente o estado deveria pagá-lo; que não foi esclarecida a forma de pagamento por parte do estado; que Alencar estaria oferecendo sua ajuda a pedido do governador”.
Gerente afirma que alertou secretário de Saúde sobre respiradores
Alcineide declarou à PF que durante as tratativas da compra, suspeitou do esquema e verificou que os respiradores não serviam para entubar pacientes com covid-19 em UTIs. Ela afirmou ter alertado os secretários, e que recebeu a orientação de continuar o negócio porque era uma ordem do governador. O governo do Amazonas informou que as secretarias possuem autonomia administrativa e de gestão e não há a necessidade de consulta ao governador para a aquisição de produtos ou serviços. “Desta forma, não procede a informação de que o governador tenha ordenado ou interferido no processo de aquisição desses equipamentos”.A gerente de compras afirma que Alencar passou a ligar inúmeras vezes ao dia para passar a ela contatos e propostas. Alcineide diz que o homem que ela diz ser operador do governador a questionava sobre quais propostas preenchiam requisitos da Susam. Em caso positivo, ele compraria os produtos, afirma o depoimento. De acordo com Alcineide, Alencar fez o contato entre a Susam e as duas empresas suspeitas de participarem do esquema de fraude e superfaturamento na compra.A ex-gerente de compras afirmou que o contato com uma das sócias da empresa Sonoar foi feito por Alencar na presença de Alcineide e dos dois secretários no dia em que foram apresentados, em 21 de março.
Equipamentos passaram por duas empresas em duas horas e meia
A Sonoar é a empresa que mais lucrou no negócio e vendeu os respiradores à Vineria Adega duas horas e meia antes da mesma vender os aparelhos ao Governo do Amazonas.A Operação Sangria descobriu que o marido da ex-secretária de Comunicação e amiga de Wilson Lima, Daniella Assayag, é sócio da Sonoar. A suspeita é que a loja de vinhos tenha entrado na compra para evitar que o negócio envolvesse uma pessoa próxima a uma secretária de estado.A ex-secretária o marido Luiz Avelino negam envolvimento na irregularidade, bem como que ele seja sócio da Sonoar. O contato entre a Susam e o dono da loja de vinhos, segundo a gerente de compras, também foi feito por Alencar e com a anuência dos secretários.“Que em nenhum momento Rodrigo Tobias e João Paulo falaram no nome de Fábio Passos (dona da loja de vinhos), mas deixaram claro que Alencar seria a pessoa que resolveria a questão”, diz o depoimento.
Fonte: UOL
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