Nas últimas semanas, a investigação em torno do possível envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro em desvio de joias recebidas durante seu mandato ganhou atenção significativa na imprensa internacional. Veículos renomados como The Guardian, Le Monde e The Washington Post dedicaram reportagens ao assunto, destacando o progresso das investigações conduzidas pela Polícia Federal e sua aproximação em relação ao ex-presidente.
O jornal britânico The Guardian noticiou que a investigação sobre o caso das joias se expandiu com a Operação Lucas 12:2, deflagrada em 11 de agosto. Em um tom intrigante, o correspondente Tom Phillips destaca a relação entre os presentes de alto valor, como um relógio cravejado de diamantes, e a suspeita de furto envolvendo pessoas próximas a Jair Bolsonaro, incluindo possivelmente o ex-presidente. O nome escolhido para a operação, fazendo referência a um versículo bíblico, foi interpretado como uma sutil provocação ao bordão característico de Bolsonaro.
Por sua vez, o The Washington Post, dos Estados Unidos, focou na operação policial contra auxiliares de Bolsonaro e destacou o valor alegado pela venda dos presentes de luxo, cifrado em US$ 70 mil. Além de detalhar o desenrolar das investigações conduzidas pela Polícia Federal, o jornal norte-americano relembrou a suspeita de envolvimento de Bolsonaro nos acontecimentos do 8 de janeiro e sua ineligibilidade política pelos próximos 8 anos.
O Le Monde, da França, enfatizou as suspeitas de que Bolsonaro teria desviado presentes oficiais para benefício pessoal. O jornal francês apontou que alguns desses itens teriam sido levados aos Estados Unidos após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Desde março, quando o caso foi inicialmente revelado pelo Estadão, o Le Monde já tinha abordado o possível envolvimento de Bolsonaro como algo “embaraçoso” e “extremamente constrangedor”. O correspondente Bruno Meyerfeld destacou que a imagem do ex-presidente como “homem do povo” foi profundamente abalada.
O jornal português O Público, por sua vez, ressaltou as denúncias de ex-colaboradores que colocam Bolsonaro em uma posição delicada. As acusações incluem o suposto envolvimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, na venda de presentes recebidos pela Presidência. O periódico também reportou as acusações feitas pelo hacker Walter Delgatti Neto durante uma sessão da CPI, afirmando que Bolsonaro o teria encorajado a invadir uma urna eletrônica. Além disso, o jornal luso mencionou o pedido de quebra de sigilo fiscal de Bolsonaro e da ex-primeira dama, Michelle.
No contexto internacional, o El País, da Espanha, apresentou uma análise do jornalista e escritor Juan Arias, que destacou a aparente contradição entre o discurso anticorrupção de Bolsonaro e as acusações de envolvimento no esquema de venda de presentes. Arias ironicamente mencionou que Bolsonaro poderia enfrentar prisão pelo caso das joias ao invés de por ações mais graves, como a tentativa de golpe de Estado ou sua postura em relação à epidemia de COVID-19.
A história envolvendo as joias, segundo Arias, poderia ser tema de um filme de comédia, especialmente pelo fato de algumas dessas peças ainda estarem retidas na alfândega do Rio de Janeiro após terem sido trazidas escondidas no fundo da mochila de um militar.
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