De Ecoa, em São Paulo (SP) – 22/07/2023 – 06h00
As araras-azuis têm chamado a atenção dos pesquisadores devido ao seu comportamento peculiar no que diz respeito à monogamia e vida conjugal. Enquanto mamãe arara-azul está ocupada chocando o ovo de seu futuro filhote, é o “papai” da ninhada que assume a responsabilidade de buscar alimento para a família. No momento em que o pai retorna e alimenta sua “esposa”, eles embarcam em uma relação sexual ali mesmo.
Segundo a bióloga Neiva Guedes, integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e presidente do Instituto Arara-Azul, durante o período reprodutivo, esses casais têm uma relação intensa. Mesmo com a fêmea incubando o ovo e após o nascimento do filhote, eles continuam a realizar a cópula diariamente.
Essas aves magníficas formam pares após cerca de seis ou sete anos, porém, só começam a se reproduzir dois ou três anos depois do início do “namoro”. Uma vez formados, os casais vivem constantemente juntos, compartilhando tarefas nos ninhos, cuidando dos filhotes e buscando alimento.
Estudos de campo combinados com análise genética revelaram que a maioria dos casais de arara-azul é monogâmica. Embora existam exceções, a fidelidade ao longo da vida é uma característica predominante entre essas aves, que passam a maior parte do tempo juntas, fortalecendo o vínculo afetivo e compartilhando a responsabilidade parental.
A relação familiar intensa das araras-azuis não se limita apenas aos casais. Os filhotes também desempenham um papel essencial nesse contexto. Enquanto a fêmea incuba os ovos, o macho fica de “guarda” na entrada do ninho, demonstrando um cuidado mútuo notável entre ambos.
Diferentemente de algumas espécies de aves que abandonam seus ninhos ou filhotes quando perturbados, as araras-azuis são extremamente cuidadosas com sua prole. Elas fazem um trabalho meticuloso de limpeza das penas dos filhotes, um comportamento que encanta os observadores e traz valiosos insights sobre a natureza dessas aves.
Em situações adversas, como incêndios ou inundações, os pais permanecem próximos ao ninho, voando ao redor em busca de seus “herdeiros”. Embora em outras espécies de psitacídeos a monogamia seja menos comum, nas araras-azuis, ela se mostra uma estratégia reprodutiva bem-sucedida.
De acordo com Neiva Guedes, ao observar esses animais, podemos aprender lições valiosas sobre fidelidade, compartilhamento de tarefas e cuidado mútuo. Em um mundo onde as relações humanas passam por mudanças constantes, olhar para a natureza pode nos inspirar a construir relacionamentos mais sólidos e responsáveis.
A vida conjugal intensa e afetuosa das araras-azuis é uma demonstração fascinante da complexidade e beleza da vida selvagem. O estudo dessas aves não apenas enriquece nosso conhecimento sobre a natureza, mas também nos convida a refletir sobre a importância do respeito e cuidado com o meio ambiente e suas criaturas.
Comments 3