Manaus – Em meados de fevereiro, o auxiliar de produção Kleison Oliveira da Silva, 30, apreensivo, cuidava do filho recém-nascido, no IMDL (Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu), hospital público estadual de Manaus. Na UTI, a esposa, Jucicleia de Sousa Lira, 33, lutava contra a Covid-19.
Então, o susto: sua irmã, que mora em Santarém, no Pará, enviou por WhatsApp um vídeo em que Jucicleia aparece sorridente durante uma sessão de nebulização de hidroxicloroquina.
A ginecologista e obstetra paulistana Michelle Chechter é a responsável pela nebulização da hidroxicloroquina. Ela atuou na capital amazonense com o marido, o também médico Gustavo Maximiliano Dutra. A paulistana foi a autora das imagens da sessão de Jucicleia recebeu o tratamento.
O viúvo garante não ter sido avisado, durante as conversas no hospital com a doutora Chechter, sobre a nebulização ou o vídeo.
Ele só descobriu que a esposa havia assinado uma autorização ao ser informado em 8 de abril. São três parágrafos curtos com quatro erros gramaticais e de grafia. No documento, a paciente dá aval ao tratamento e autoriza o uso do depoimento gravado na UTI, além do relato do casa em uma revista científica.
Responsável pela nebulização da hidroxicloroquina é a ginecologista e obstetra paulistana Michelle Chechter. Ela atuou na capital amazonense com o marido, o também médico Gustavo Maximiliano Dutra (que aparece de azul na foto).
A doutora foi procurada pelo jornal no Centro Médico Mazzei, em São Paulo, onde trabalha. A resposta veio por meio de uma mensagem de uma funcionária que afirmou: “Dra Michelle disse para deixar assim mesmo porque no momento ela está sem tempo”.
A aplicação da nebulização, que consiste na inalação de comprimidos de cloroquina triturados e diluídos, a médica paulistana ignorou todas as boas práticas, de acordo com o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira, gerente médico do Sabará Hospital Infantil.
Uma das principais irregularidades é a ausência de aprovação prévia por um comitê de ética em pesquisa, algo que a lei exige no Brasil. Outra falha grave é que a paciente não foi informada dos riscos no momento de assinar o consentimento, conforme prega as normas nacionais do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Veja o vídeo:
Segundo apuração, apenas outra paciente, que também havia acabo de dar a luz, deu aval para passar por uma nebulização. Ela sobreviveu, mas recebeu alta quase dois meses após ter passado pelo procedimentos.
Relatos dizem ainda que recebeu ao menos três pacientes que receberam o tratamento mesmo sem terem concedido autorização. Todos morreram, inclusive uma paciente de 32 anos, grávida de cinco meses, internada com Covid-19.
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