A gestão pública, para além de seus instrumentos técnicos e normativos, encontra sua razão de ser quando se conecta à vida real das pessoas, aos desafios cotidianos das cidades e aos sonhos legítimos das novas gerações. Foi com esse espírito que nasceu o concurso Soluções Sustentáveis, promovido pela Escola de Contas Públicas do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, com o firme propósito de inspirar consciência ambiental, protagonismo estudantil e inovação cidadã.
Entre 97 projetos apresentados por escolas de diversos municípios do Amazonas, destacou-se o trabalho intitulado “O lixo não é tão ‘lixo’ assim: gerenciamento de resíduos sólidos”, desenvolvido pelos alunos Ludmila Miranda e Davi Ferreira Batista, da Escola Almirante Ernesto de Mello Baptista, em Manaus. Sob a orientação da professora Mary Luci Souza Castro Florêncio, a proposta não apenas se destacou tecnicamente — ao propor soluções como bueiro inteligente, produtos de limpeza ecológicos e campanhas de coleta seletiva — mas, sobretudo, emocionou e mobilizou uma comunidade escolar inteira em torno de um ideal: transformar o lixo em esperança e aprendizado.
Como bem sintetizou a diretora Cleny Ferreira Alves, “foi como ganhar um Oscar”. E, de fato, foi. Porque o que se premiou ali foi mais do que um projeto escolar — foi um gesto de futuro. Um chamado à responsabilidade coletiva sobre o planeta. Uma prova viva de que, quando incentivados, nossos jovens respondem com criatividade, coragem e compromisso ético com a vida.
Vivemos um tempo em que o ordenamento e reaproveitamento dos resíduos sólidos se tornou um dos mais prementes desafios da gestão urbana. O volume diário de lixo gerado pela população urbana exige não apenas soluções técnicas, mas sobretudo mudanças culturais e educativas profundas. É nesse ponto que a iniciativa do TCE-AM revela sua vocação transformadora: utilizar a educação ambiental como ferramenta de cidadania e como plataforma de formação de uma civilização conectada aos princípios da sustentabilidade.
Ao promover o concurso Soluções Sustentáveis, o Tribunal reafirma sua missão pedagógica e seu papel indutor de boas práticas, ampliando o alcance da cidadania ambiental para além dos gabinetes e planilhas. Tocamos corações. Iluminamos mentes. Lançamos sementes.
Nos rostos entusiasmados de Ludmila e Davi, na emoção da mãe Dicelia Assis Batista ao ver o reconhecimento do esforço de seu filho, e na fala inspiradora da secretária adjunta da Seduc, Edilene Pinheiro, está a prova de que a educação ambiental é determinante para a formação de sujeitos sociais capazes de pensar o coletivo, cuidar da natureza e transformar a realidade.
Este é o caminho mais promissor que o poder público pode trilhar: ouvir as juventudes, confiar no talento das escolas, valorizar a ciência e a criatividade aplicadas aos territórios. Uma sociedade verdadeiramente sustentável começa no pátio da escola, passa pela consciência das famílias e culmina na atuação de instituições que, como o TCE-AM, acreditam na força das ideias e na pedagogia do exemplo.
Que o prêmio concedido à Escola Almirante Ernesto de Mello Baptista seja apenas o início de uma longa jornada de descobertas e transformações. Porque, afinal, como nos ensinou esse projeto inspirador, o lixo pode ser apenas um nome provisório para o que ainda não aprendemos a valorizar. E é valorizando o que parecia descartável que aprenderemos, juntos, a construir o futuro que a Amazônia — e o planeta — tanto precisam.
Yara Amazônia Lins
Conselheira Presidente do Tribunal de Contas do Amazonas