O movimento do Papa Francisco para aproximar a sociedade civil das discussões da Igreja Católica abriu as portas para duas mulheres negras do Brasil. As brasileiras Sônia Gomes de Oliveira, líder do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, e Maria Cristina dos Anjos, assessora de migração da Cáritas, foram convidadas pelo pontífice para participar da primeira etapa global do atual sínodo, que ocorrerá em outubro, no Vaticano.
Tradicionalmente, apenas bispos participam dos sínodos, mas sob a liderança do Papa Francisco, as mulheres estão ganhando um espaço mais relevante. Sônia Gomes de Oliveira e Maria Cristina dos Anjos estão entre os 70 católicos escolhidos pelo pontífice para integrarem o encontro, sendo 35 mulheres e 35 homens.
Ambas as brasileiras têm uma ampla atuação em projetos sociais ligados à Igreja Católica no Brasil. Durante o sínodo, elas serão observadoras e terão espaço para compartilhar suas opiniões. Sônia Gomes de Oliveira representa o laicato e lidera a organização dos católicos leigos brasileiros, enquanto Maria Cristina dos Anjos integra uma comissão do Conselho Episcopal Latino-Americano que discute a participação das mulheres na igreja e na sociedade.
O sínodo, criado pelo Papa Paulo 6º em 1965, é uma reunião episcopal convocada pelos pontífices para discutir temas relacionados à instituição. Sob a liderança do Papa Francisco, a Igreja Católica já discutiu questões como família, juventude e Amazônia. O sínodo em andamento, com o tema “Comunhão, Participação e Missão”, teve início em 2021 e tem previsão de conclusão em 2024. A etapa global ocorrerá em outubro deste ano, seguida pela etapa final em Roma, prevista para o próximo ano.
As brasileiras convidadas por Francisco destacaram que o papel das mulheres na igreja, a diversidade sexual e de gênero, o combate ao racismo e os direitos dos migrantes foram temas relevantes nas etapas anteriores do sínodo. Essas são demandas globais e o Vaticano, em junho, publicou um documento preparatório abordando questões relacionadas à sexualidade, divórcio, celibato dos padres e diaconato para mulheres.
No entanto, as mudanças promovidas pelo Papa Francisco no sínodo e as discussões progressistas lideradas por ele não são aceitas de forma pacífica por todos os segmentos católicos. O cientista social Leon Souza, diretor da Casa Galileia, uma ONG especializada em mobilização de públicos religiosos, aponta que as tensões surgem devido à tentativa de romper com o clericalismo e a estrutura engessada do catolicismo institucional.
Apesar das discussões em torno desses assuntos, a participação das mulheres e a inclusão de não bispos no sínodo demonstram o comprometimento do Papa Francisco em reconhecer o papel dos leigos na igreja. O encontro contará com a presença de 363 participantes, entre padres, freiras, bispos e leigos, sendo 85 mulheres. Treze brasileiros participarão da reunião, incluindo os representantes Sônia Gomes de Oliveira e Maria Cristina dos Anjos, além de líderes eclesiásticos do país.
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