As pesquisas de opinião pública são ferramentas importantes para compreender o que
as pessoas pensam e sentem sobre os mais variados temas, como, por exemplo: política,
educação, saúde, segurança e produtos. Também abordam questões políticas, como
eleições, partidos e políticas públicas, além do que as pessoas pensam sobre produtos e
serviços, incluindo suas preferências e comportamento de compra.
Embora sejam instrumentos importantes para a tomada de decisões, o usuário precisa
ficar muito atento ao visualizar o resultado de uma pesquisa, sobretudo quando se tratar
de pesquisas sobre candidatos e eleições.
Existem institutos de pesquisa que merecem credibilidade; realizam os levantamentos
de forma técnica e publicam os resultados corretamente. No entanto, mesmo esses
números, vindos de institutos confiáveis, especialmente os eleitorais, precisam ser
analisados de acordo com o contexto e o momento em que os dados foram coletados.
Vi esta semana o resultado de uma pesquisa feita por uma empresa respeitada, que
afirmava que “o presidente Lula ganharia a próxima eleição para Presidente da República
do Bolsonaro ou de qualquer outro candidato da direita”.
Analisando friamente, em razão do contexto e do momento, essa pesquisa, embora
técnica, está contaminada:
• O ex-presidente Bolsonaro está inelegível, e essa informação é divulgada
diariamente pela grande mídia;
• Os outros possíveis candidatos da chamada direita, à exceção de Ronaldo Caiado,
que já expôs publicamente sua intenção, ainda não se declararam “précandidatos” à Presidência da República — pelo menos até o período da referida
pesquisa;
• Além disso, salvo Bolsonaro (inelegível), os demais pré-candidatos não estão
presentes na grande imprensa diariamente, portanto, estão fora de foco.
De outro lado, o presidente Lula:
• Está presente na mídia diariamente, seja de forma negativa ou positiva. Gilberto
Mestrinho, um sábio político do Amazonas, dizia: “falem mal de mim, mas falem
de mim”;
• É quem anuncia benefícios para o povo, sempre com grande repercussão na
mídia. Exemplos: a nova faixa de isenção do imposto de renda, o Pé-de-Meia, o
Mais Especialistas, o Minha Casa, Minha Vida…;
• Administra um orçamento bilionário (em 2025, a previsão é de R$ 5,8 trilhões) e
participa de todos os lançamentos de programas, políticas públicas e
inaugurações de obras do governo federal, sempre com massiva cobertura da
imprensa;
• Realiza ações direcionadas a prefeitos e governadores (repasses, convênios,
anúncios de obras), amplamente divulgadas pelo governo federal e pelos
governos beneficiados (estaduais e municipais);
• Gasta bilhões de reais em propaganda e publicidade institucionais sobre as
realizações do seu governo. Para 2025, a previsão é de R$ 3,5 bilhões;
• Utiliza, na publicidade, não só o orçamento da União, mas também os de
empresas estatais como a Caixa Econômica, o Banco do Brasil, a Petrobras, os
Correios… E o grande beneficiado é sempre o presidente. No caso, o presidente
Lula. A título de exemplo: somente para a TV Globo, a Secretaria de Comunicação
do Governo Federal (Secom) destinou R$ 177,2 milhões.
Portanto, o resultado da pesquisa, nesse contexto, embora feita por um respeitável
instituto, está contaminado.
Ainda há o “lado escuro” de certas pesquisas: as chamadas “pesquisas paletó”, feitas
“por encomenda”.
São como aves de arribação: aparecem sempre nos períodos pré-eleitorais e eleitorais.
Infelizmente, os resultados dessas “pesquisas”, em muitos casos, influenciam as decisões
dos eleitores, beneficiando determinados candidatos.
“Muita água ainda vai rolar” até o próximo pleito para presidente, senadores e
deputados, e muitas pesquisas ainda serão publicadas. Recomenda-se cautela ao
analisá-las.
Manaus, 11 de abril de 2025.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazonas