Em um período de pouco mais de um mês, cerca de 80 milhões de abelhas foram encontradas mortas em diversas cidades da Bahia devido ao uso ilegal do agrotóxico Fipronil. O epicentro dessa tragédia ambiental foi em Ribeira do Pombal, situada a 288 km da capital Salvador, onde aproximadamente mil colmeias de 32 apicultores foram afetadas, de acordo com dados da Cooarp (Cooperativa de Apicultores de Ribeira do Pombal).
Recentemente, um problema semelhante foi registrado em Mato Grosso, onde pelo menos cem milhões de abelhas perderam a vida em consequência do uso inadequado do mesmo agrotóxico, que foi lançado por avião agrícola em uma fazenda de algodão em Sorriso, situada a 420 km de Cuiabá.
Os primeiros exames laboratoriais realizados em duas amostras apontaram o agrotóxico Fipronil como a causa das mortes das abelhas. No entanto, ainda há outras amostras armazenadas que aguardam envio para testagem, segundo José Carlos Santos da Fonseca, presidente da cooperativa. Ele afirma que a cooperativa pretendia realizar o máximo de testes possíveis, mas o governo do estado assumiu a responsabilidade e solicitou que o material coletado fosse armazenado até que a parte burocrática fosse resolvida. Caso não haja progresso nesse sentido até esta semana, a cooperativa tomará outras providências.
A escalada desses tristes acontecimentos começou em 19 de junho, quando uma apicultora relatou a morte de abelhas em suas colmeias. A partir desse momento, diversos apicultores passaram a registrar as mesmas queixas diariamente. Até o momento da última atualização, na quarta-feira (26), foram contabilizadas mil colmeias perdidas pertencentes a 32 apicultores, sendo oito colmeias de Nova Soure, três de Cipó e o restante em Ribeira do Pombal.
Estima-se que aproximadamente 80 milhões de abelhas foram afetadas, o que resulta em um prejuízo financeiro de cerca de R$ 800 mil. Em Mato Grosso, o cálculo foi feito considerando pelo menos 170 mil abelhas por colmeia nesta época do ano.
O presidente da cooperativa explicou que é comum o uso de tratores para aplicação dos agrotóxicos, onde uma pipa de mil litros é utilizada, e o líquido é dissipado em um raio de aproximadamente 15 metros. Além disso, em algumas propriedades, o produto é direcionado somente ao chão, mas na maioria dos casos, ele é despejado sem restrição, alcançando o chão, os lados e sendo carregado pelo vento.
A Agência de Defesa Agropecuária da Bahia informou que, desde 2021, o estado já teve três episódios de mortandades de abelhas causadas pelo Fipronil, nas cidades de Eunápolis, Entre Rios e Santa Brígida. Entretanto, as quantidades de abelhas mortas nesses casos não foram divulgadas. Além desses casos, foram notificadas mais oito mortandades de abelhas na Bahia neste ano, mas não houve diagnóstico laboratorial. A agência também informou que está fiscalizando propriedades rurais suspeitas de serem responsáveis pela aplicação inadequada de agrotóxicos, porém, até o momento, nenhuma punição foi aplicada.
Diante desse cenário, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) destaca que os órgãos de defesa agropecuária estaduais já estão tomando medidas, pois trata-se de uma mortandade de abelhas manejadas principalmente para a produção de mel. O instituto ressaltou que está reavaliando as condições de registro dos produtos à base de Fipronil, devido aos fortes indícios de seus efeitos danosos às abelhas. O Ibama enfatizou a importância de que os usuários desses produtos sigam as instruções aprovadas e mencionou que, desde 2012, a aplicação por aeronaves de diversos produtos associados à mortandade de abelhas, incluindo os contendo Fipronil, está proibida. Ainda assim, as condições aprovadas atualmente também estão sob investigação e novos estudos e dados podem levar a novas restrições.
O promotor Adriano Nunes informou que o Ministério Público requisitou informações das entidades envolvidas e que, diante das informações sobre a mortandade de abelhas em Ribeira do Pombal, verificará a possibilidade de atuar regionalmente para identificar a causa das mortes e responsabilizar os envolvidos.
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