Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) interpretam a mudança na estratégia de defesa do ex-ajudante de ordens Mauro Cid como um sinal de “desespero”.
Cid, um tenente-coronel do Exército, pretende admitir ter conduzido a negociação das joias nos Estados Unidos sob a ordem do ex-mandatário. Essa revelação foi feita por seu advogado, Cézar Bittencourt, e confirmada pela revista Veja e pela Folha.
Fontes próximas ao ex-presidente destacam que Cid está detido desde maio no Batalhão do Exército, em Brasília, e manifesta preocupação com sua família. Atualmente, ele se encontra sob custódia em relação a outra investigação, que apura suspeitas de adulteração em seu cartão de vacinação.
O espaço onde Cid está detido possui uma área de 20 metros quadrados. Diariamente, ele tem apenas duas horas para sair da cela, o que lhe proporciona um período de banho de sol em um amplo espaço onde pode correr e praticar musculação.
Há o receio de que Cid possa oferecer qualquer informação necessária para obter sua liberdade, algo que é considerado possível. Porém, os aliados de Bolsonaro enfatizam que, mesmo que possam existir contratempos ou questões questionáveis, acreditam que a atuação do ex-presidente foi legal, negando sua participação nas ações que Cid realizou com as joias.
Mesmo antes da operação ocorrida na semana passada, o clima na família do ex-ajudante de ordens já era tenso. A prisão de Cid e de seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, na sexta-feira (11), por ação da Polícia Federal, os deixou ainda mais isolados, inclusive entre seus aliados no Exército.
De acordo com informações de aliados do general, ele vinha demonstrando insatisfação com o ex-presidente e sentia que ele e seu filho estavam sendo deixados de lado.
A investigação da Polícia Federal revelou que ambos estavam envolvidos em transações para vender presentes recebidos por Bolsonaro durante suas viagens oficiais. Esses bens são considerados propriedade do Estado, e o Tribunal de Contas da União entende que Bolsonaro não poderia apropriar-se desses itens valiosos.
O advogado de Cid afirmou: “Ele confessa que adquiriu as joias claramente sob ordens do presidente. Comprou e vendeu. Agora, é hora de resolver esse assunto e realizar a venda.” Anteriormente, em uma entrevista à Folha, Bittencourt expressou a crença de que as investigações da PF estavam, na verdade, focadas principalmente em Bolsonaro, e não em Cid.
Apesar dessa perspectiva, Bittencourt recuou de suas declarações da quarta-feira (16) para a quinta-feira (17), após uma longa conversa com Cid no Batalhão do Exército em Brasília. Ele passou a afirmar que o militar não estava apenas seguindo ordens.
“Eu tenho a impressão de que ele tinha uma certa autonomia. Além disso, se eu cometi um erro aqui, eu posso corrigir ali. Se fiz algo errado aqui, posso ajustar lá”, disse o advogado na ocasião. Anteriormente, ele havia afirmado a alguns meios de comunicação que Cid estava apenas cumprindo ordens do chefe.
Bittencourt, que sempre se mostrou crítico em relação a acordos de delação premiada, especialmente durante a Operação Lava Jato, inicialmente descartou essa possibilidade no caso de Cid.