Pela barreira de contenção instalada na entrada de Novo Airão, distante 115 quilômetros de Manaus, já se percebe que medidas mais rígidas de isolamento social foram adotadas para aquele município. A cidade está há seis dias em lockdown, o que significa a suspensão total de serviços considerados não essenciais e ainda, o bloqueio de circulação de pessoas nas ruas.
Com o decreto estabelecido pelo executivo municipal no último dia 18, e que tem validade inicial de 10 dias, Novo Airão dá exemplo de tranquilidade, de adesão ao isolamento social e de preocupação diante dos novos casos do novo coronavírus (SARS-CoV-2) se comparado a outros municípios do Amazonas como Manacapuru, uma das cidades mais afetadas pela pandemia, por exemplo.
Até ontem, Novo Airão contabilizava sete novos casos confirmados de Covid-19. Ao todo, são 90 casos testados como positivo, sendo 61 de pessoas que estavam em tratamento domiciliar, uma seguia internada em leito clínico, 24 pacientes estavam fora do período de transmissão e quatro óbitos, em decorrência da doença, haviam sido registrados. Ainda conforme o boletim epidemiológico emitido pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), 211 pessoas que estiveram contato com casos positivos estão sendo monitorados em casa.
Para com o secretário da Semsa de Novo Airão, Raimar Carvalho Araújo, o lockdown visa interromper a transmissão do novo coronavírus pelo município que, atualmente, tem quase 20 mil habitantes segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019.
“A medida está sendo positiva e proveitosa. A gente só precisa que a população e comerciantes entendam que só existe essa forma de interromper a cadeia de transmissão do vírus”, ressaltou ele.
“Nem todo o recurso que o município tem disponível vai resolver a compra de medicamentos, insumos, de segurança, se a gente não diminuir a contaminação. A gente precisa parar a cadeia de transmissão e isso tem sido discutido por pessoas no mundo inteiro, que o lockdown é a medida mais eficaz nesse combate à pandemia”, acrescentou ele, que afirma ser necessário avaliar a eficácia da medida para que haja revogação antecipada ou a prorrogação do decreto, porém, o que vai determinar serão os registros diários de Covid-19.
Em suas casas obedecendo ao isolamento social, a população tem se mostrado a favor de medidas mais rígidas como é o caso do pintor Sebastião Oliveira Baimah, 58. Ele é natural de Manaus, mas escolheu a cidade como lar há cinco anos.
“Nós estamos com a família dentro de casa. Quando vamos fazer as compras só vai uma pessoa, e para entrar nesses mercadinhos, ninguém aceita a entrada sem máscara. É por isso que essa doença não está afetando tanto o município porque o povo está obedecendo”.
Para a professora, Maria das Dores da Cruz, 56, o lockdown é uma medida que freia a contaminação do vírus que tem assolado outros municípios do interior do Estado. “Esse é o meio de parar com a doença e eu concordo plenamente com o decreto. A gente vê que a maioria das pessoas estão em suas casa, mas claro, sempre há aquelas que não querem nada com a vida e estão por aí circulando”, disse.
Medidas de saúde
Em Novo Airão, o atendimento domiciliar tem sido priorizado pela gestão municipal. Na busca ativa por novos casos, agentes de saúde vão de casa em casa a fim de encontrar pessoas que apresentem síndromes respiratórias para o devido acompanhamento médico. De acordo com Raimar Carvalho, os atendimentos voltados para a síndrome respiratória aguda grave (SARS) foram concentrados na Escola Municipal Aristoteles Freire Arnoud.
“Nós colocamos dois profissionais de saúde que estão seguimento ao protocolo de tratamento nesse colégio que é muito bem arejado e com estrutura adequada. Em paralelo a isso, a gente está com os agentes de saúde fazendo o que a gente chama de operação pente fino de casa em casa, verificando quem tem síndrome respiratória, se teve algum paciente que teve contato com algum paciente positivo para Covid-19”, explicou.
“Se eles identificarem isso, os agentes de saúde trazem a informação, no final da tarde, para a equipe de vigilância epidemiológica que tabula esse dado e direciona um outro profissional médico para fazer esse atendimento na casa, mas sem tirar a responsabilidade dessa unidade que está preparada para fazer esse atendimento dos pacientes com síndrome respiratória agudas”, acrescentou ainda
Sobre pacientes com Covid-19, Raimar Carvalho destacou que eles podem pode ser muito bem assistidos pelo município e afirmou que apenas nos casos em que não haja o equipamento necessário, os doentes serão transferidos para a capital. “Hoje, nós temos três tendas, as mesmas usadas pela Samel, para o atendimento. Eles nos cederam às tendas. Temos um ventilador bipap e nós fizemos a aquisição de mais duas”, comentou.
“Para dar tranquilidade e segurança no tratamento dos pacientes, a gente conseguiu montar uma estrutura mínima para conduzir esses pacientes aqui até algum grau de complexidade, se for avaliado pela equipe médica e ele precisar de um suporte ventilatório mais específico aí sim a gente entra em contato com unidade referência que é o Delphina Aziz e faz a remoção dele para Manaus”, finalizou.
Personagem
Para a autônoma Maria José Vieira de Almeida, 36 anos, a população de Novo Airão continua nas ruas. De acordo com ela, que herdou dos pais um empreendimento de refeições, o lockdown não está fazendo efeito para a cidade. “Na realidade esse lockdown, não tem mudado nada. As pessoas parecem que entenderam o contrário, ao invés de elas ficarem em casa, elas resolveram sair mais que o normal. As pessoas estão indo mesmo às ruas, sem cerimônias e sem máscaras”. A renda dela caiu diante à pandemia do novo coronavírus, e com o decreto, as vendas de refeições caíram ainda mais. “A gente já não estava mais vendendo. Então, agora, estamos quase fechando as portas por está impossível”.
Quinto município a decretar lockdown
Novo Airão é o quinto município do interior do Amazonas a decretar lockdown. Outras cidade que adotaram o bloqueio total de atividades não essenciais foram Tefé, Barreirinha, Silves e São Gabriel da Cachoeira. Segundo o decreto, estão autorizados somente os deliverys de alimentos naturais, industrializados, comida pronta e produtos de limpeza e higiene pessoal, com horário definidos pela prefeitura. Também estão permitidos as entregas de medicamentos e produtos hospitalares.
Os estabelecimentos autorizados a funcionar devem respeitar o limite máximo de uma pessoa por grupo familiar, seguir a regra de distanciamento mínima de um metro, além de proibir o acesso aos locais essenciais sem máscara. E ainda, oferecer ao cliente água, sabão ou álcool em gel. Para os moradores fica proibido, segundo consta no decreto, visitas em casas e prédios, exceto pelos próprios moradores ou por pessoas que estejam desempenhando atividades consideradas essenciais. O lockdown em Novo Airão terá fiscalização do Sistema de Segurança Pública, da Defesa Civil, assim como do Comitê de Combate ao Covid-19.
Ainda conforme o documento, quem descumprir a medida será penalizado, primeiramente, com uma advertência. Caso se torne reincidente, o empresário poderá pagar multa no valor de R$ 1 mil para pessoa física por dia, e R$ 2 mil para microempresários individuais (MEIs) e empresas de pequenos porte (EPP). Caso volte a descumprir o decreto, o estabelecimento será embargado ou interditado. Embarcações e aeronaves que descumprirem as determinações podem ser multadas em R$ 5 mil por dia, limitados ao total de R$ 500 mil.
A critica
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