“Retorno das aulas é arriscado”, diz Helma Sampaio, coordenadora do Sindicato dos Professores e Pedagogos do Ensino Público da Educação Básica do Município de Manaus
Manaus – Neste fim de semana, o Sindicato dos Professores e pedagogos do Ensino Público da Educação Básica de Manaus (Asprom) anunciaram estado de greve. A nomenclatura ainda não é a paralisação, mas significa que ela já está nos planos, caso governos municipal e estadual anunciem a volta às aulas sem discutir a possibilidade com os educadores.
A decisão da categoria foi tomada na sexta-feira (17), em assembleia geral e definiu a possibilidade de greve “diante da possibilidade de retorno das aulas presenciais nas escolas da Seduc/AM e da Semed/Manaus”, ou seja, escolas municipais e estaduais.
De acordo com documento divulgado à imprensa, a Asprom Sindical reiterou, ainda, que o estado de greve é apenas um alerta aos governantes, mas que, por enquanto, professores e pedagogos continuarão a trabalhar normalmente.
“Se os governantes não chamarem os professores através do sindicato para falarem das suas angústias, seus medos, nós poderemos deflagrar uma greve. Vamos avisar aos governantes que estamos decididos a não retornar para a sala de aula porque consideramos arriscado esse retorno e dizemos embasados em pesquisas científicas”, afirma Helma Sampaio, coordenadora-geral da Asprom Sindical.
Próximos passos
A representante dos professores e pedagogos diz que o próximo passo após o estado de greve é a articulação com o Governo e os profissionais do setor. Por isso, nesta semana, o sindicato irá participar de uma audiência pública a ser realizada na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).
“Solicitamos [a audiência] e esperamos que nessa semana, até quarta, ela seja realizada para discutirmos essa problemática. Lá vão estar nosso sindicato, representantes da Seduc, da Semed, do Ministério Público, da associação das merendeiras de escolas públicas e serviços gerais das escolas públicas”, comenta a coordenadora da Asprom.
Cientista baseia decisão de greve
Helma Sampaio, diz ainda, que na audiência pública da próxima semana estará presente o biólogo Lucas Ferrante. Ele é pesquisador do Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e realizou um estudo sobre o perigo da volta às aulas em momento inoportuno.
“O Lucas coordenou estudos disciplinares sobre o perigo de volta às aulas. Ele participou da nossa assembleia para decidir o estado de greve e, na sua fala, foi muito taxativo. Disse que há um perigo grande no retorno às aulas. Inclusive com a possibilidade de aumentarem os casos da doença em Manaus”, explica a coordenadora da Asprom.
Pais divergem sobre volta às aulas
O medo de que os filhos se contagiem impede Francinete Cardoso, 40 anos, de ser favorável ao retorno das aulas. A técnica em enfermagem, tem uma filha de 11 anos e um menino de nove. “Não sou a favor de jeito nenhum. Agora estamos vendo casos de crianças com Covid-19 no hospital. Todo plantão aparece mais casos, apesar de serem sintomas diferentes”, diz ela.
Ela comenta que no grupo de pais da escola em que seus filhos estudam “alguns poucos, contando no dedo” querem que as aulas retornem. As maiores defesas para a volta dos estudos é que alguns pais não têm com quem deixar as crianças e precisam trabalhar.
A nova rotina das escolas
Ludmylla Rondon é orientadora educacional e faz um aparato de todas as novas indicações para a retomada de estudos nas escolas. Ela diz que vários documentos oficiais têm procurado apontar como será a nova realidade.
“Uma das soluções é a redução do número de alunos por sala de aula. As turmas provavelmente deverão se dividir em espaços ou horários diferentes. Outra opção apontada ainda acerca do horário é planejar diferentes momentos de chegada e saída dos estudantes”, afirma a especialista.
Outro momento que merece atenção é a famosa ‘hora do lanche’, quando alunos saem das salas e ocupam, aglomerados, as dependências da escola. Para Ludmylla, esse momento deve ser planejado.
“A escola precisa se preocupar em alterar a rotina pedagógica. Por exemplo, o lanche pode ser na sala de aula num primeiro momento, ou alternar o horário de uso do pátio. Mudar também quando determinada turma pode fazer um intervalo, para que não fiquem crianças no pátio. Toda essa nova rotina precisa de uma parceria entre escola e família”, afirma a orientadora educacional.
Escolas municipais sem data para retorno
Em nota, a Secretaria municipal de Educação (Semed) informou que não há previsão para o retorno das aulas na rede municipal e que essa discussão está sendo amplamente divulgada. Leia a nota completa:
A Secretaria Municipal de Educação (Semed) informa que não há previsão para retorno das aulas na rede pública municipal. Esta informação, inclusive, consta em diversos materiais de divulgação produzidos pelo órgão publicados tanto no portal da secretaria, quanto nas redes sociais, bem como em comunicação feita à imprensa, em que a Semed faz questão de ressaltar que ainda não há data para o retorno e que o mesmo se dará apenas após deliberação dos órgãos de saúde.
A Semed destaca, ainda, que no final de junho foi feita uma reunião on-line com as entidades representantes dos profissionais da educação, incluindo a Asprom, e que contou com a presença também de representante do Ministério Público do Estado Amazonas (MPE/AM), em que foi informado oficialmente aos participantes sobre a indefinição quanto ao retorno das aulas presenciais até que houvesse orientação oficial dos órgãos de saúde sobre a segurança do ato.
Foi informado também sobre a criação de um Grupo de Trabalho (GT) intersetorial, com participação das áreas da educação, saúde e assistência, a fim de fazer o monitoramento epidemiológico, bem como organizar os protocolos de segurança para o retorno.
A Semed reforça que jamais optará por qualquer decisão que coloque alunos, professores e demais servidores da educação em risco. Com inf. em tempo.
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