Após mais de um ano de expectativa, a Suécia oficialmente se tornou o 32º membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A aprovação da entrada do país nórdico ocorreu na segunda-feira (26 de fevereiro de 2024), quando o Parlamento da Hungria deu o último aval para a expansão da aliança militar na Europa, superando o último obstáculo representado pelo governo de Viktor Orbán.
As adesões da Suécia e da Finlândia, esta última integrante desde abril de 2023, marcaram o fim da política de neutralidade adotada por ambos os países. Além disso, representaram a maior expansão da OTAN desde a inclusão de nações do Leste Europeu que antes pertenciam à extinta União Soviética.
A história da OTAN está intrinsecamente ligada à Rússia, e a recente expansão segue essa trajetória. Fundada em 1949 durante a Guerra Fria, a aliança tinha como objetivo principal impedir a expansão e a influência política da União Soviética na Europa. Agora, a preocupação concentra-se nos potenciais impactos na segurança do continente europeu, especialmente se a Rússia prevalecer na guerra contra a Ucrânia.
A decisão da Finlândia e da Suécia de aderir à aliança foi motivada pela percepção de ameaças à segurança, intensificadas pelo conflito entre Ucrânia e Rússia. Por outro lado, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu governo expressaram repetidas vezes o descontentamento com a expansão da OTAN em países vizinhos, considerando-a uma ameaça à segurança russa. Putin inclusive utilizou essa questão para justificar a invasão de territórios ucranianos em 24 de fevereiro de 2022.
De acordo com Danielle Jacon Ayres Pinto, professora de relações internacionais da UFSC, as adesões da Suécia e da Finlândia representam uma “vantagem” para a OTAN, pois a aliança militar expande seu território próximo ao seu “maior inimigo não declarado [a Rússia], mas [um inimigo] dentro das perspectivas securitárias” da organização.
O professor de relações internacionais da UFRJ, Carlos Eduardo Martins, avalia que as recentes adesões fazem parte de um plano de expansão da OTAN para o Leste Europeu. Ele destaca o interesse dos Estados Unidos em cercar a Rússia, isolando-a, uma vez que o país é um corredor logístico crucial na articulação entre a China e a Europa.
Com as inclusões dos países nórdicos, a Rússia agora se vê cercada por nações da OTAN em terra e mar. Atualmente, cinco países da organização militar compartilham fronteiras com a Rússia: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e Finlândia. No âmbito marítimo, a proximidade é evidente devido às duas saídas estratégicas russas para o Mar Báltico – o porto de São Petersburgo e o enclave russo de Kaliningrado.
A OTAN possui acesso estratégico ao Mar Báltico por meio de Alemanha, Dinamarca, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e agora Finlândia e Suécia. A Rússia, portanto, tornou-se o único país fora da aliança militar na região.
Vantagem Defensiva
A entrada da Finlândia e da Suécia na OTAN também é vista como uma contribuição significativa para a aliança militar no setor bélico. A Suécia, em particular, é considerada uma potência militar, e a forma como ela disponibilizará seus recursos bélicos para o arsenal da OTAN será observada.
Em 2006, os ministros da Defesa dos países membros da OTAN comprometeram-se a gastar pelo menos 2% do PIB em defesa para manter a prontidão militar da aliança. A guerra na Ucrânia fez com que as nações europeias revissem seus gastos com defesa para proteger o continente.
Risco de Guerra
Em um pronunciamento à nação na quinta-feira (29 de fevereiro), Vladimir Putin alertou para o risco de um conflito nuclear com o Ocidente caso a OTAN envie tropas à Ucrânia. Putin acusou os países ocidentais de tentarem envolver Moscou em uma corrida armamentista, destacando a necessidade de a Rússia fortalecer suas Forças Armadas na direção estratégica ocidental.
Segundo Danielle Jacon, Putin deixou claro em seus discursos recentes que não hesitará em usar o arsenal nuclear russo se for atacado pela OTAN. No entanto, ela pondera que é “pouco provável” que a Rússia inicie um conflito na Europa por iniciativa própria para conquistar territórios. A especialista ressalta que a resposta russa seria mais provável se percebesse uma ameaça à sua soberania devido à proximidade crescente da OTAN.
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