Em edifício de luxo, primeira-dama de Tamandaré colocou criança sozinha no elevador e mandou para o último andar em Pernambuco.
Na última terça-feira (2) a criança Miguel Otávio, de 5 anos, caiu do 9º andar do Condomínio Pier Maurício de Nassau, no Cais da Alfândega, Recife. O prédio é parte do conjunto conhecido como “Torres Gêmeas”, cujos apartamentos custam em torno de R$2 milhões. A criança é filha da empregada doméstica Mirtes Renata Souza, que mesmo durante a pandemia foi colocada para trabalhar por seus patrões Sérgio Hacker Corte Real e Sari Corte Real, respectivamente prefeito e primeira-dama de Tamandaré, cidade do litoral sul de Pernambuco.
O filho da doméstica estava na casa dos patrões, já que Mirtes passa dias lá e não há com quem deixar o filho. Os patrões mandaram Mirtes passear com o cachorro da família numa praça em frente ao prédio de luxo, enquanto a criança ficou sob os cuidados de Sari Corte Real. Mas o menino quis encontrar a mãe. Vídeos da câmera de segurança mostram a primeira-dama colocando o menino sozinho no elevador, no 5º andar do prédio. A mulher aperta o botão do 12º, último andar do prédio, mesmo sabendo que a criança buscava ir ao térreo. O menino aperta outros botões aleatoriamente.
Quando o elevador abre no 9º andar, a criança sai sozinha. Minutos depois caiu de uma altura de aproximadamente 40 metros. A perícia encontrou marcas da sandália da criança na área onde fica o ares-condicionados. Os bombeiros avaliam que Miguel Otávio subiu no parapeito do prédio e caiu acidentalmente.
Sari Corte Real foi presa em flagrante ainda na tarde da terça-feira, mas foi solta logo em seguida após pagar uma fiança de R$20 mil. Responderá processo em liberdade. O casal tem se negado a falar com a imprensa desde então. Apesar de o caso ter ocorrido há dois dias, os nomes do casal só vieram à tona na manhã desta quinta (4), quando a própria Mirtes expôs publicamente. As autoridades locais estavam alegando sigilo enquanto não havia aberto um inquérito.
Organizações sociais de Pernambuco convocaram uma manifestação de “Justiça para João Miguel” para esta sexta-feira (5), em frente às “Torres Gêmeas”, sob a palavra de ordem “rosas para Miguel e fogo nos racistas”. O ato acontece a partir das 13h, horário em que a criança morreu.
Em Pernambuco, o trabalho de empregadas domésticas não é considerado essencial e por isso os patrões não devem convocar suas empregadas. As únicas exceções são quando as profissionais são cuidadoras de idosos, de pessoas com necessidades especiais e babás de crianças filhas de profissionais de saúde e segurança que estejam na linha de frente do combate à pandemia. O caso de Mirtes não se encaixa nas referidas exceções, mas ainda assim seus patrões a estavam submetendo ao trabalho.
A mãe de Mirtes, já idosa, também trabalha para o casal. E a família da doméstica é formada pelas duas e pelo menino Miguel, que é levado por elas para o trabalho. Quando teve início a pandemia, o casal Sérgio Hacker e Sari Corte Real levou as duas empregadas para trabalharem para eles durante o isolamento, na cidade do litoral sul. A criança foi levada com a mãe. Quando o prefeito foi diagnosticado com covid-19, no fim de abril, também tiveram resultado positivo a mãe de Mirtes e o filho, mas com sintomas leves.
Sérgio Hacker Corte Real tem 31 anos, é empresário e principal herdeiro político da família, que tem como principal destaque o também empresário e político Jorge Corte Real (PTB), ex-deputado federal por Pernambuco (dois mandatos, 2011-2018), que representava em Brasília os interesses do setor industrial do estado. Recentemente Jorge Corte Real presidiu a Federação das Indústrias do estado de Pernambuco (Fiepe) e agora é vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A família atua no setor da construção civil e é proprietária da Construtora Carrilho, antiga “Carrilho & Real Empreendimentos Ltda”. Sérgio Hacker é filiado ao PSB, foi eleito em 2016 e é candidato à reeleição este ano.
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